A ideia de que ele poderia representar dois papéis tão distintos com duas pessoas diferentes intrigava-a de uma forma desconcertante. Seria ela o vício obsessivo de alguém que não conseguia lidar com a sua sexualidade? Seria ela a satisfação demente do desejo, a expressão do dissoluto? Seria ele um ator quase tão natural quanto ela? Quem é que estava ali a enganar quem? “Tenho a minha fala!” - pensou e, ainda que fosse descontextualizada e o som ininterrupto do telefone se fizesse ouvir, ela proferiu-a só para que fosse verbalizada, o drama da personagem que já não se deixava ouvir, a quem o tempo destruíra o protagonismo.- Encontro-te lá.Conduzida pelo magnetismo secreto dos seus olhos, olhou-se ao espelho e achou-se harmoniosa. Viu um brilho determinado nos olhos, que poderia ser só do gin, mas ela identificou-o e apercebeu-se, pela primeira vez, que todo o quarto cheirava a fumo de tabaco e que aquele não era um dia com muito sol, era um dia ideal para ficar deitada, a ler, a beber e a fumar. Sabia que não devia sair e que parte dela queria ficar mas, às vezes, no que toca ao amor, parece que não aprendemos nada com o passar dos anos.

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